Alguns meses atrás, um conhecido foi até uma loja de celular que fica dentro de um shopping, para comprar um carregador de celular. A atendente da loja ofereceu um carregador que custava R$ 125,00. Que basicamente eu já considero um golpe (minha opinião, não uma verdade absoluta), pois era um carregador comum com uma porta USB e que junto acompanhava um cabo do tipo micro USB, não era USB-C e nem um carregador rápido. Se fosse USB-C, R$ 125,00 ainda seria caro, porém, mais compreensível.

Aliás, se essa pessoa tivesse perguntado pra mim antes, eu teria sugerido um carregador idêntico ao que foi comprado na loja, por valores entre R$ 50,00 e R$ 60,00, vendido na Amazon (Confira aqui neste link).

O provável golpe

Como o valor era alto (Você pode julgar baixo, mas a situação financeira da pessoa não é das melhores), essa pessoa decidiu pagar no cartão de crédito. E foi neste momento, que provavelmente, o golpe foi aplicado. A atendente e ao mesmo tempo vendedora, pediu um documento para “abrir cadastro” na loja. Para isso, foi solicitado o número do CPF e o documento entregue foi a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), que contém o CPF do condutor habilitado. O cartão de crédito foi erroneamente entregue à atendente junto com a habilitação. E por alguns instantes, essa pessoa que trabalha na loja de celular, saiu da vista do dono do cartão de crédito, com o cartão e a habilitação.

Neste momento, todos os dados necessários para fazer compras online estavam em mãos da possível (não posso acusar ninguém, vai que o cartão foi clonado em outro local) golpista. Mas no dia seguinte a este procedimento estranho, o cartão foi utilizado sem autorização.

Os dados para fazer compras online seriam o número do cartão de crédito, a data de validade, o código de segurança do cartão de crédito, que é encontrado no verso do mesmo, o nome do dono do cartão e o CPF do titular do cartão. Com estes dados, é possível fazer compras pela internet.

Ações suspeitas

A primeira suspeita seria a necessidade de abertura de cadastro, para comprar algo usando o cartão de crédito, pois com o cartão de crédito, o banco está sendo o seu credor, é ele que está te emprestando dinheiro, logo é para ele que você vai pagar quando pagar cada parcela.

Isso significa que o lojista recebe o pagamento no ato, integralmente. E o dono do cartão vai pagando aos poucos para o banco. É totalmente diferente de um crediário nas Casas Bahia ou em qualquer loja que faça crediário, que você compra algo e sai da loja com um carnê para ir pagando mensalmente. Aliás, nem sei se isso existe ainda.

Logo, criar um cadastro de cliente para fazer uma compra com um cartão de crédito, é algo que não é necessário. Você vai passar o cartão, digitar a senha e pronto, está pago, desde que a instituição que emitiu o cartão, aprove a transação, claro.

A segunda ação suspeita, foi a atendente (possível golpista) ter saído do campo de visão do cliente, indo para trás de um balcão fechado, atrás de uma parede. Neste momento, provavelmente a (possível) golpista tirou fotos dos dois lados do cartão de crédito e da habilitação (CNH), ficando com os dados necessários para o (possível) golpe.

Pois bem, no dia seguinte chegaram duas mensagens no celular (SMS), informando que foram aprovadas duas compras on-line (pela internet), uma chegando pŕoximo a R$ 1000,00 e outra na casa dos R$ 1700,00. imediatamente esta pessoa me ligou e informou o que havia acontecido e pediu orientação.

O que fazer em caso de golpe com cartão de crédito

A orientação inicial foi ligar imediatamente para o banco, solicitando o cancelamento do cartão, para que novas transações não fossem realizadas. Informe que o cartão foi clonado e que está sendo utilizado sem autorização. Mesmo que esta técnica não seja exatamente a clonagem de um cartão, vamos simplificar. Use a palavra “clonado” e pronto.

Dependendo do banco (e boa vontade e do conhecimento do atendente), o mesmo irá perguntar se você reconhece algumas das últimas transações, citando valores e meios de pagamento (online ou fisicamente). Neste caso você já poderá contestar vendas neste exato momento.

No caso relatado aqui, o atendente sabia o que fazer e estava de boa vontade. As transações de quase R$ 1000,00 e R$ 1700,00 foram contestadas e o estorno foi realizado, desta forma a pessoa não precisou pagar aproximadamente R$ 2700,00 usados indevidamente e sem autorização, por outra pessoa, ou grupo de pessoas (vulgo quadrilha).

Indo além do banco! Cancelando com a loja

Quando eu consegui descobrir o nome do estabelecimento no qual o cartão havia sido utilizado (apareceu na fatura online, pelo app, mesmo cancelado (estornado), procurei o nome do mesmo na internet. Neste caso era um parque de águas termais. Isso mesmo, os bandidos estavam comprando diárias em um parque aquático para dar vários mergulhos em águas termais, com dados roubados de um cartão de crédito, ou vendendo ingressos, convertendo dinheiro do cartão de crédito em dinheiro transferido ou dinheiro de papel (cédulas).

Pois bem, eu entrei em contato com o parque via WhatsApp e expliquei o caso. A atendente, que era do setor de vendas, afinal de contas geralmente o contato divulgado deste tipo de local é do setor de vendas. A atendente prontamente entrou em contato com o financeiro, explicou o caso e me pediu para enviar print dos valores referente às compras e também parte do número do cartão de crédito.

Tudo bem fornecer parte do número do cartão de crédito. Neste caso, as lojas possuem acesso liberado pela operadora, a parte do número dos cartões usados em transações, como exemplo, é possível que o funcionário veja algo parecido com isso: **** 9012 345* ****. Desta forma é possível confirmar o cartão utilizado, sem fornecer o número completo e sem o código de segurança.

As informações solicitadas foram enviadas via e-mail e a atendente me pediu para aguardar. No dia seguinte, um funcionário do setor financeiro do parque de águas termais entrou em contato via WhatsApp para detalhar a situação. A reserva com valor de uns R$ 1700 foi cancelada com sucesso e com isso o banho quente da bandidagem (ou dos parentes da bandidagem, ou até mesmo de pessoas que também foram enganadas pela bandidagem), foi por água fria, abaixo.

Porém, infelizmente a reserva de quase R$ 1000,00 já havia sido utilizada e com isso infelizmente o banho quente com dinheiro roubado aconteceu. Bom, pelo menos parte do golpe foi “evitado”.

Quem fica com o prejuízo?

Meu conhecido teve o dinheiro estornado pelo banco, tal pessoa não teve prejuízo. O parque aquático conseguiu cancelar uma das reservas, porém a outra foi utilizada. Mas é claro que o parque aquático não pode ficar com o prejuízo, a culpa não foi dele.

Neste caso, se o parque aquático tiver um seguro contra fraudes, a seguradora pagará para o parque aquático, porém o parque aquático tem que pagar o seguro, que pode (uma possibilidade, não uma regra, ok?) ser repassado de alguma forma para os clientes. Afinal, nem o parque aquático nem a seguradora arcam com o prejuízo.

No caso da transação do banco que não foi cancelada pelo parque aquático, também deve existir um seguro contra fraudes, seja ele pago pelo cliente final do banco ou pelo próprio banco. Neste caso o banco também não vai ficar no prejuízo e nem a seguradora. Logo, o prejuízo também pode (mais uma possibilidade, não regra, ok?) ser repassado para os clientes. Não diretamente como uma cobrança referente a um prejuízo, mas como um aumento da taxa de serviços, por exemplo.

Quem fica no prejuízo é praticamente sempre o cliente final. Eu pago, você paga, nós pagamos. É igual escola, mesmo que você não tenha filhos, você paga a escola pública, com impostos. Se você tem um ou mais filhos que estudam em escola particular, parabéns por pagar duas escolas para ele, ou eles, ou elas.

Tudo que é roubado, quem é honesto paga pelo prejuízo. Se a van dos correios é roubada, se um caminhão de uma transportadora é roubado e etc, geralmente essas ações refletem de algum lado, seja no valor de produtos, valor de frete (quem você acha que paga a escolta armada? Sim, você paga) e etc.

Como manter seu cartão de crédito seguro?

1 – Se precisar entregar seu cartão à alguém, observe o que a pessoa faz, o tempo todo. Caso ela dê sinal de sair do seu campo de visão, questione e não permita que ela leve seu cartão, independente da alegação desta pessoa. Se tiver que fazer algo, faça onde você possa ver.

2 – Verifique se o App de seu banco permite bloqueio de compras on-line. Em caso positivo, você pode manter este bloqueio ativado e desativar apenas quando você efetivamente for fazer compras online. Observe se o App tem bloqueio para compras online nacionais e internacionais e faça o bloqueio de ambos se possível.

3 – Caso a pessoa pegue o cartão de sua mão para passar na maquininha de pagamentos, observe cada movimento que a pessoa fizer com seu cartão. Existem casos em que basta alguns segundos de distração e o cartão é substituído ou até mesmo é usado um celular para gravar os dados do cartão, para posterior uso online.

Neste caso, a dica de bloquear o uso do cartão para compras online, pode ajudar a evitar golpes.

Um truque para ajudar a identificar a troca de cartões, é colar algum adesivo no cartão. Não precisa ser grande, apenas algo que personalize o cartão. Um adesivo por 1 cm x 1 cm já ajuda.

4 – Se um funcionário disser que é necessário criar um cadastro para que você possa comprar utilizando o cartão de crédito, desconfie. Se for preciso, acione o gerente ou outro funcionário para tirar a dúvida.

5 – Não passe o código de segurança do cartão de crédito (CVV) para pessoas que você não conhece.

6 – Não envie fotos, print screen ou os dados de seu cartão de crédito via aplicativos de mensagens (WhatsApp, Telegram e etc), e-mail ou outros meios de comunicação. Por mais que você esteja enviando estes dados para pessoas que você conhece e confia, o WhatsApp da pessoa pode ter sido clonado por exemplo ou o telefone dela pode ser roubado e todos os dados serem acessados por golpistas.

Faça um boletim de ocorrência

Se você cair em um golpe, junte os comprovantes, imprima e leve até uma delegacia de polícia. Conte o caso para que seja registrado um boletim de ocorrência. Talvez os golpistas sejam presos, e talvez a estatística de golpes seja estatisticamente relevada. Sei que às vezes duvidamos da justiça, mas mesmo duvidando, se possível, registre o boletim.

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